Othon Gama d’Eça e a Ação Integralista Brasileira em Santa Catarina

/Gustavo Tiengo Pontes

O presente texto está embasado em pesquisas críticas sobre sociedade e cultura brasileira e foi adaptado para finalidades didáticas, visando fortalecer os elos entre universidade e escolas conforme princípios que regem o Portal do Bicentenário.

O século XX brasileiro foi marcado por disputas, mudanças de regimes políticos e a presença de uma série de movimentos e partidos que arregimentaram seguidores em torno de suas ideias e lideranças. Um desses grupos políticos foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), que se formou durante o período de 1930 a 1937, quando uma série de forças políticas digladiavam em busca do poder. A proposta deste texto é tecer considerações sobre o envolvimento neste grupo de um dos principais escritores catarinenses, Othon da Gama Lobo d’Eça (1893-1964), muito conhecido pela publicação da obra “Homens e Algas” em 1957. 

A Ação Integralista Brasileira foi fundada pelo escritor paulista Plínio Salgado em São Paulo no ano de 1932 através da publicação do documento “Manifesto de Outubro”, e rapidamente se expandiu pelo Brasil. Era um movimento hierarquizado, autoritário e de inspiração fascista, sendo que o seu criador era construído pelo grupo como um grande líder, o único capaz de guiar os destinos da nação. Eles tinham o lema “Deus, Pátria e Família”, possuíam forte componente nacionalista em seu discurso e construíam o comunismo como o principal inimigo a ser combatido.  

É possível encontrar indícios de que Gama d’Eça estaria entre os primeiros envolvidos com a expansão do movimento por terras catarinenses, junto de Antonio Portini e Carlos Seabra, no ano de 1934. Pelo que foi possível averiguar, Gama d’Eça sempre foi Chefe Provincial da AIB no Estado, tendo sido também o diretor do jornal integralista “Flamma Verde”, que foi publicado semanalmente em Florianópolis de 1936 a 1938. (1) (2). 

Antes de seu envolvimento na AIB, Gama d’Eça já tinha sido escritor, jornalista, fundador da Academia Catarinense de Letras, Juiz de Direito, Delegado Auxiliar de Polícia e professor de Direito Romano na Faculdade de Santa Catarina, que também tinha sido um de seus fundadores. Ele estudou no Ginásio Catarinense em Florianópolis e formou-se em direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro na década de 1920. 

A AIB elegeu prefeitos em diversas cidades e vereadores pelo Brasil, sendo que, em Santa Catarina, sob a Chefia de Gama d’Eça, o movimento contou com um número significativo de adeptos, principalmente pelas regiões mais ao norte e ao sul do Estado. A grande adesão possibilitou que em 1935 ocorresse na cidade de Blumenau o I Congresso Integralista das Províncias Meridionais, que contou com um expressivo número de participantes de vários estados brasileiros. Além disso, nas eleições de 1936 a AIB iria eleger em SC 8 prefeitos, 72 vereadores. 

A Capital Catarinense não contou com muitos adeptos integralistas, embora fosse onde se localizava a sede da Chefia Provincial do Integralismo em SC. Pode-se explicar a escolha da cidade tendo em vista que Florianópolis era um espaço simbólico importante, pois, era nesta cidade onde se concentrava a sede do governo estadual, uma série de serviços públicos, consulados, a Faculdade de Direito de Santa Catarina etc. 

Em outubro de 1936 foi lançado em Florianópolis o periódico integralista semanal “Flamma Verde”, que circularia até fevereiro de 1938. O conteúdo publicado no jornal divulgava as atividades do movimento, atacava os seus adversários políticos e divulgava as ideias integralistas. Não se sabe ao certo o quanto Gama d’Eça participou ativamente na produção de “Flamma Verde”, pois, ele viajava constantemente pelo Estado divulgando as ideias integralistas além de atuar como advogado do movimento. Em suas viagens, Gama d’Eça fazia palestras e se encontrava com autoridades locais, o que era representado no jornal como exemplo de força e ampla adesão ao movimento. 

É possível compreender Gama d’Ela ter ocupado o cargo de Diretor do jornal por ele ter sido um dos primeiros a organizar a AIB em Santa Catarina, por já ter tido experiência na elaboração de periódicos e ser um intelectual reconhecido no Estado por suas outras atividades e origem familiar. Além disso, antes ele também tinha sido responsável por uma coluna integralista no jornal catarinense “A Gazeta”.

O fim da AIB tem início após o Golpe de 1937, que inaugurou o período chamado de “Estado Novo” e tornou Getúlio Vargas ditador. Ao chegar ao poder, Vargas tornaria os partidos ilegais e, posteriormente, em maio de 1938, a AIB encerraria definitivamente as suas atividades após uma tentativa frustrada de alguns de seus membros em tomar o poder à força. Muitos militantes integralistas foram perseguidos, o que parece que não um problema para Gama d’Eça, possivelmente em virtude de sua projeção e contatos políticos. 

Recomendamos, portanto, o uso deste artigo por professores e estudantes da rede básica de educação enquanto material complementar para preparo de aulas, fonte para seminários temáticos, oficinas de leitura, rodas de conversa e outras atividades de ensino.

 

Othon Gama d’Eça com uniforme integralista. Créditos: Jornal Flamma Verde. Acervo da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

#paracegover  Em perfil, Othon da Gama Lobo d’Eça, escritor catarinense, tem seu busto representado na imagem em preto e branco. Com aparência séria e bastante formal, cabelos escuros e bem penteados, veste uma farda, com uma gravata preta, proveniente do seu cargo de chefia da Ação Integralista Brasileira. Em sua vestimenta, destacam-se medalhas de honraria no lado esquerdo do peito.

 

Nota

(1) Os estados na época chamavam-se Província. Pode-se dizer que ele ocupava o cargo de Chefe Integralista no Estado de SC.

(2) Algumas edições estão disponíveis para acesso online através da Hemeroteca Digital Catarinense, a maior parte está no acervo físico da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. 


Para saber mais

CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937). Bauru, SP: EDUSC, 1999.

DOTTA, Renato Alencar. Um esboço necessário sobre a trajetória do integralismo brasileiro – da AIB ao ciberintegralismo: 1932 a atualidade. In. SCHURSTER, Karl {et. al}. Velhas e novas direitas: a atualidade de uma polêmica. Recife: EDUPE, Editora Universidade de Pernambuco, 2014. p. 281-289.

FLAMMA VERDE, 1936-1938 (Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina).

FURTADO, Tamires Quesada. Literatura, vida pública e modernidade: um estudo sobre Othon Lobo da Gama d’Eça (1892-1965). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2015.

GERTZ, René. O Fascismo no Sul do Brasil. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.

PONTES, Gustavo Tiengo. Das páginas de ‘Flamma Verde’: educação e sociabilidade no periódico integralista ‘Flamma Verde’ em Florianópolis entre 1936 e 1938. 236 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Humanas e da Educação, Mestrado em Educação, Florianópolis, 2016.

TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30. São Paulo, Rio de Janeiro: Difel, 1979