A Revolução Pernambucana de 1817 

/Raquel Barreto

 

No ensino de história do Brasil, a chamada Revolução Pernambucana de 1817 é parte dos conteúdos relativos aos movimentos contestatórios que levaram à erosão da autoridade e do poder português sobre a antiga Colônia e criaram condições para a Independência. O estudo da história e da memória deste movimento é fundamental para que os alunos e as alunas tenham uma visão dos diversos movimentos de questionamento da situação Colonial que emergiram nos vários territórios  da então América Portuguesa e que vieram a se constituir, posteriormente, o Brasil.

Se você é de Pernambuco ou já visitou o estado, é bem possível que  já tenha se deparado com a expressão “Pernambuco é meu país”. Tal sentença se origina da Revolução Pernambucana, ocorrida na Capitania de Pernambuco, em 1817, que à época abrangia os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e parte da Bahia. A Capitania tem a sua História marcada por intensos conflitos territoriais, políticos e econômicos, se fazendo também constar na historiografia brasileira pela conquista da sua Independência em relação ao país. 

 

Imagem: Bênção das bandeiras da Revolução de 1817, óleo sobre tela de Antônio Parreiras. Domínio público.

 

Três séculos antes, tão logo foram fundadas as benfeitorias por Cristóvão Jacques (em 1516 e 1526), a Capitania já produzia o açúcar que seria enviado a Portugal. Assim, se fortaleceu a partir da extração de pau-brasil e da exportação do açúcar, superando a produção da Ilha da Madeira em quantidade e qualidade se tornando a mais rica Capitania da América Portuguesa. Este cenário de intensas transformações e de formação das elites açucareiras nos conduz a 1817, quando Pernambuco se tornou palco de um movimento republicano e separatista que demonstrava a insatisfação dos locais com a administração portuguesa e com as desigualdades sociais que marcavam a realidade pernambucana.  

Em 1808, com as invasões napoleônicas a Portugal, a Corte Portuguesa se transferiu para o Rio de Janeiro, aumentando consideravelmente os impostos cobrados às Capitanias para manter os luxos da família real e, ainda, para financiar as campanhas militares empreendidas nas disputas pela Região Cisplatina. O descontentamento das elites locais foi o ponto de partida para a deflagração do movimento, que reivindicava a autonomia da província. 

Inspirados nos ideais do Iluminismo e indignados pela morte do brigadeiro Manoel de Castro, os líderes revolucionários tomaram a cidade do Recife, obrigando o então governador Caetano Montenegro a fugir para o Rio de Janeiro. Instalou-se então o Governo Provisório, que dentre as medidas aprovadas, proclamou a República Pernambucana, determinou a liberdade da imprensa e aumentou os vencimentos dos soldados. Por ter sido um movimento de caráter liberal, a escravidão foi mantida, pois esta beneficiava os fazendeiros locais. É importante considerar que, apesar da participação popular durante a Revolução, os interesses das massas não foram atendidos.

Os principais líderes do movimento foram identificados como Cruz Cabugá, Domingos José Martins, José Barros Lima e o Padre João Ribeiro que, dada a sua importância, hoje são homenageados com nomes de pontes, ruas e avenidas na cidade do Recife (PE). Devido à reação violenta das tropas portuguesas, a República Pernambucana durou apenas 75 dias (6 de março a 20 de maio de 1817), condenando à prisão e à morte os principais líderes do movimento. Assim, a Revolução Pernambucana se configurou como um movimento que, superando a fase conspiratória, conseguiu tomar o poder de Pernambuco, provocando transformações que marcaram o período e que, principalmente, evidenciaram a insatisfação com o governo português antes da Independência do Brasil em 1822. 

 

Para saber mais

Atlas da Capitania de Pernambuco. Acesse aqui.

Roda de Conversa – Sentidos de Liberdade

 

 

 

#Paratodesverem A imagem é o quadro “Benção das Bandeiras da Revolução de 1817”, de Antônio Parreiras. Nele, vê-se vários homens,  vestindo roupas formais,  diante e ao lado de dois religiosos, um dos quais porta uma bandeira e, o outro,   um livro aberto entre suas mãos.  Em primeiro plano, ao centro, há uma criança com roupas compridas e portanto instrumentos religiosos que indicam que ele faz parte do corpo religioso da cerimônia. Ao lado do menino, há um cachorro. Na parte de baixo, à direita, vê-se uma uma mulher de costas, com roupas brancas e chapéu. Todas as roupas denotam vestimentas do século XIX. Ao fundo há vários pendões, indicando a existência de outras bandeiras, um casarão e, acima, o céu, com nuvens brancas e um pouco avermelhadas.