Bicentenário da Independência do Brasil (1822-2022): Outros Sentidos

(Exposição virtual)

Raylane Navarro Barreto (UFPE)

Tayanne Adrian Santana Morais da Silva (UFPE)

Viviane de Bona (UFPE)

A exposição “Bicentenário da Independência do Brasil (1822-2022): outros sentidos”, tem como proposta apresentar uma visão plural a respeito do tema, problematizando a ideia de independência, comumente associada ao dia 7 de Setembro de 1822, e seus impactos na vida de pessoas com deficiência, mulheres, crianças, negros, ciganos, indígenas e pessoas LGBTQIA+ em terras brasileiras. Esse processo, que culminou no estremecimento das relações coloniais entre Brasil e Portugal, não foi linear e ocorreu mediante disputas — nem sempre apenas discursivas — entre diversos grupos, fossem apoiadores ou contestadores do processo emancipatório brasileiro em relação à metrópole portuguesa. A mostra, ainda que fruto dessa efeméride, não se limita a esse marco temporal, ao contrário, dialoga com o tempo presente na medida em que se volta para as relações entre diferentes comunidades que ainda hoje pleiteiam suas independências e se fazem notar na luta pela emancipação de si e dos seus.

Nos oitocentos, grupos de mulheres galgavam espaços mais significativos socialmente através da educação, indo de encontro à tutela vigilante que lhes impunham o espaço privado como inerente à sua condição feminina. Comunidades indígenas se envolviam nos conflitos de terra nas antigas aldeias coloniais e lutavam contra políticas de caráter assimilacionista que visavam a incorporar os indígenas ao Império como cidadãos civilizados. Segmentos da população negra, fosse livre ou escravizada, se articulavam no braço e na pena, nos quilombos e nos púlpitos, nas fugas e no enfrentamento, o direito à liberdade. Hoje, mulheres apresentam maiores índices de sucesso em suas trajetórias formativas, comunidades indígenas são reconhecidas em seus direitos pela Constituição de 1988, e a população negra está liberta dos grilhões que escravizavam seus corpos. Contudo, impera ainda a luta contra a violação dos direitos à vida das mulheres, pelo direito à cidadania dos povos originários e contra a discriminação racial, fruto do período de escravização da população negra no Brasil.

Dividida em quatro núcleos (textos, iconografias, esculturas e artefatos), a exposição apresenta justamente outros sentidos sobre a Independência no Brasil, articulando-os aos caminhos traçados pelas massas ditas ocultas em seus próprios processos de independência. A seleção das temáticas teve como referência a necessidade mostrar a existência e a resistência de grupos que ainda hoje lutam pelo reconhecimento de seus direitos sociais diante de uma sociedade profundamente alicerçada em valores patriarcais, racistas, homofóbicos e capacitistas. Tem-se a perspectiva que, em 1822, as vozes dos(as) excluídos(as) da história já se faziam ouvir pelos seus direitos à educação, à liberdade, à participação política e à igualdade jurídica e social. A exposição coloca em pauta esses grupos e chama a atenção para as exclusões resultantes de uma sociedade que muito negou e violentou as experiências, afetividades e autonomias de diversos extratos de sua população.

O elemento central é pontuar o descompasso entre a independência política do país que se efetivou no século XIX e as lutas que atualmente precisam (r)existir em prol da cidadania de pessoas com deficiência, étnica e racialmente demarcadas, de orientação sexual e identidade de gênero diversas aos padrões heteronormativos. Fica evidente, vale dizer, que a percepção da Independência variou e varia, dentre outros elementos, de acordo com a cor da pele, o gênero, a faixa etária, a sexualidade e a classe social do indivíduo. Mais que isso, se sobressai o imperativo de que muito precisa ser construído em face da proteção e da autonomia de crianças, pelo direito à terra e modos de ser das comunidades indígenas, e no combate à violência perpetuada pelos ismos nossos de cada dia — a exemplo do racismo, do machismo e do capacitismo.

Nessa exposição, no eixo das esculturas, poderá ser completado o exercício artístico de crianças de 6 a 14 anos, que, convidadas pelo Laboratório de Estudos, Pesquisa e Extensão sobre Infâncias e Projetos Lúdico-Educacionais Inclusivos (LIPLEI), revelam as suas versões acerca das independências. São obras originais, frutos das sensibilidades e técnicas próprias de
cada idade e que nasceram da leitura dos verbetes que compõem a exposição. Mais do que um apelo estético, quisemos mostrar como as crianças se expressam a respeito de um tema tão essencial ao Brasil e aos brasileiros e brasileiras.

“Bicentenário da Independência do Brasil (1822-2022): outros sentidos” nasceu da sensibilidade de pesquisadoras, pesquisadores e crianças que, a partir de seus escritos e suas artes, oferecem outros sentidos às concepções acerca da Independência no Brasil. As instalações da exposição possibilitam, assim, a oportunidade de fazer emergir as múltiplas independências que não foram contempladas em 1822, cujas importâncias têm assumido o protagonismo das narrativas históricas nas últimas décadas. E, ainda que diante dos significativos avanços nas esferas sociais que temos experimentado, devemos (re)memorar a necessidade de permanecermos em marcha por uma sociedade mais justa, igualitária e democrática entre todos(as)(es), por todos(as)(es) e para todos(as)(es).

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#Paratodesverem Em um retângulo colorido, aparecem sujeitos sociais que contribuíram para a construção do Brasil: indígenas, negros, mulheres e personagens conhecidos, tais como, Maria Quitéria, Joana Angélica e Tiradentes.

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